Otávio, o caixa, por certo nunca ligara para problemas de comunicação.
Falava... e dizia.
Pronto o receptor que ouvisse... e escutasse.
Ignorava, talvez, que a cada universo de ouvintes corresponde linguajar específico, um repertório. Palavras como isótopo e fissão só costumam ser inteligíveis entre os iniciadores em Física Nuclear,
Otávio não atentava para isso. E se julgava, decerto, possuidor de comunicação universal, acessível a qualquer repertório.
Falava e dizia.
Quem ouvisse que escutasse.
Assim, quando Terezinha lhe apresentou o cheque, ele nem imaginou que a cliente talvez não entendesse o idioma bancário.
Falou:
-Por favor, moça. Seu cheque é nominal a Terezinha Gomide. Precisa endosso.
Terezinha escutou, mas não ouviu.
Nominal? Endosso? Endosso tinha sabor de açúcar. Mas era possível, não tinha nada a ver:
-Desculpe seu Otávio. Não entendi.
Denovo o caixa falou e disse:
-Simples, coloque sua firma aqui no verso.
Ainda sem ouvir, a cliente espichou-lhe um olhar interrogante. Verso? Firma? Que diabos, antes "nominal"; agora "verso"."Endosso" e também "firma".Ora eu não sou sócia de nada! Nem poeta! Terezinha, atonita, achou de perguntar:
-Perdão seu Otávio,continuo não compreendendo.
Deu-se por fim um estalo. O caixa pensou no repertório de Terezinha e tratou de advinha-lo.Disse:
-Coloque aqui o seu nome.Assim como você faz no final da carta pro seu namorado. Terezinha iluminou-se. decidida pegou firme na caneta e lascou no verso do cheque
"COM TODO AMOR, UM GRANDE BEIJO, Terezinha"